segunda-feira, 27 de outubro de 2008

o imperador e galileu


Assisti sábado O Imperador e Galileu, peça inédita de Ibsen aqui no Brasil. Me surpreendi em ver o Sérgio Ferrara amadurecido (minha única comparação era O Mercador de Veneza dele)... essa montagem é maravilhosa por sua simplicidade, pelo foco preciso e ritmo impecável. Apesar do elenco às vezes destoar um pouco uma hora ou outra, senhor, o que é o Caco Ciocler fazendo esse imperador. Eu gostei muito. Já amo Ibsen, e vê-lo bem feito desse jeito é um presente para qualquer amante do bom teatro. Mas a peça realmente vai no âmago das questões fabulosas (e difíceis!) do texto. Olha, quem não viu, tem que ver. Adoro o jeito que o Caco não se impõe em nenhum momento como protagonista (ou imperador!). Ele se amolda ao personagem com humildade e presença, afinco e liberdade. A trajetória de Juliano lembra muito Hamlet em certos momentos. O homem em dúvida, dividido, joguete do destino. Juliano trava uma luta entre deuses, até que se confunde com um deles. Ele perde, é claro, mas sua trajetória é sincera e destituída de ambição. É na humildade que ele se percebe um Deus! Esse é o toque brilhante do autor, que o puxa invariavelmente para sua condição de humano. O homem, com o poder, o que é, se não a sombra do homem que foi antes de possuí-lo.

sábado, 20 de setembro de 2008

da improvisação para o cinema

Essa semana minha turma de improvisação da Oswald mostrou resultados bem surpreendentes, que pretendo até postar aqui mais tarde. Pois bem, é inacreditável como aparecem personagens e situações interessantes quando damos espaço a eles. Para mim, está sendo um incrível processo de descoberta. O Keith Johnstone, com seu brilhante IMPRO e Impro for Storytellers está guiando este processo, e claro eu estou dando uma empurradinha pro meu lado, fazendo a câmera participar das situações. A grande sacada do Johnstone é tirar o ego do meio de campo e trabalhar sempre em grupo. Então, em vez de por exemplo cada ator pensar num personagem, grupos de 2 ou 3 pensam em um até estarem totalmente de acordo. Isso vale para lugares e (o que vou experimentar na semana que vem) situações. Então eu vou costurando os personagens que vão aparecendo e é fantástico esse processo de descoberta. Agora que a turma está bem embasada e já improvisando bem, estou começando a dar o Story do Mc Kee para eles. O que vem nessa semana é a noção dele de evento, que uma cena só é boa se nela ocorre um evento. O evento vem carregado de uma mudança de valor. Tudo isso parece muito abstrato e é. Minha tarefa é mastigar essas coisas e oferecer a eles, e que trabalho delicioso é esse, quando eles mastigam de volta, e a câmera mastiga as duas coisas formando uma terceira. INCRÍVEL! Aguardem videozinhos demonstrativos...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Linha de Passe


Antes de ver "Ensaio sobre a Cegueira" eu assisti "Linha de Passe", de Walter Salles e Daniela Thomas. O interessante é como os dois filmes rimam em incorporar São Paulo como ponto de partida de inventar um novo cinema brasileiro. Enquanto Meirelles é internacionalista e traz grandes estrelas para cá, Walter e Daniela partem do nosso bom e velho "neo-realismo" brasileiro, cuja representante mór é claro, a preparadora de atores Fátima Toledo. Desde "Pixote" de Babenco o cinema brasileiro aposta nessa tese, e "Cidade de Deus" mais do que nenhum outro filme mostrou a força dela. No caso de "Linha de Passe", não são atores amadores, mas rostos desconhecidos que não supomos que são atores. Tudo isso traz o frescor do "autêntico", do "ainda não estabelecido", do que "ainda não conhecemos". A trilha do filme é fantástica, um dos pontos altos do filme para mim. Também gostei muito de Vinícius de Oliveira, que para mim, estaria lá só para constar..."eu não sou um novo Pixote", "o cinema não me engoliu" etc. Qual não foi minha surpresa de ver um ator maduro, com o talento lapidado, com uma presença maravilhosa e um maravilhoso entendimento do seu personagem. Vinícius é a presença mais marcante do filme, e também a mais ingênua de todas. O filme peca, na minha opinião, pelo desastroso "já perdemos". Não há saída para o cinismo da mãe (no Central tinha, lembra); nem para o crescimento acelerado do menino (em Central tinha, lembra!); o motoboy, que lembra o Fernando Alves Pinto de Terra Estrangeira, também não sonha em ir para a Espanha e realizar o sonho de ninguém; e finalmente o Evangélico, o pior personagem do filme, pois é tratado como um manipulado, num mundo onde a religião só existe como farsa.

Bom não preciso dizer que não gostei do filme, mas deixe-me explicar melhor. Não gosto da premissa do filme ser uma idéia formalista, que não abarca seu conteúdo. A Linha de Passe é a ligação imaginária entre os personagens, e o clímax do filme, o resultado dessa linha. Mas ater-se a boas idéias nunca gera um bom filme. Não vamos ao cinema para ver boas idéias. O próprio filme tem que ser a prova viva dessa ídéia.

O filme pesa tanto a mão no começo que ele nunca sai do chão. Ele se divide em cinco narrativas e acaba não aprofundando nenhuma. Eu comparava o filme a Central do Brasil, e quanto mais eu comparava mais eu achava que o filme não levantava vôo. Central levanta um vôo maravilhoso na simplicidade de seu argumento. Esse filme fica no chão por que é todo "imbutido" de idéias maravilhosas e interessantíssimas, mas que não deixam o filme deslanchar. Depois de uma hora e meia, ninguém aguenta mais aquela pobreza toda e aquele mundo sem esperança.

Linha de Passe afirma duramente que não há saída. É uma afirmação que é dura de engolir. Me mostra uma saída, parece o expectador implorar. Já para o fim do filme, o clima está pesado demais, e já desistimos de gostar do filme.

Termino citando um ditado chinês, que diz "quando o homem perdeu a inocência, para onde ele pode ir".

E pedindo aos cineastas e cineastas brasileiros um pouco mais de inocência, um pouco mais de infância, um pouco mais de magia, um pouco mais de coisas boas.

A cegueira em todas as direções


Ontem assisti "Ensaio Sobre a Cegueira", do Fernando Meirelles. O filme peca pela adaptação, basicamente. Embora não tenha lido o livro, me ficou a sensação que o filme vai em várias direções, ao invés de se ater a uma; quer abarcar idéias demais, ao invés de se aprofundar em uma. É um filme catástrofe, e também um filme de opressão, tratando da situação limite dos seres humanos terem que se rearranjar em grupos e perderem a "civilidade" original. O filme me lembra "Metrópolis", "1984", os filmes dos campos de concentração no geral, e também "Guerra dos Mundos", do Spielberg. Enquanto Meirelles não cai na armadilha do sentimentalismo deste último, polarizando indivíduo (relações familiares) e massa (falta de sentimento), ele peca por não ter claro um ponto de vista. O filme começa patinando um pouco, até que no claustro em que os personagens se encontram vão se perdendo as noções de civilidade, e então o filme ganha força em seu argumento, e pensamos "será que vai ser um filme-Saló"... por que a força do filme está na polaridade ser humano-não civilidade. Quando eles saem, respiramos aliviados, mas o filme se dilui em conteúdo, ganhando apenas no nosso deliciar em ver São Paulo como uma metrópole futurista e caótica. O fim do filme, um "reestabelecimento da ordem", não chega a convencer justamente porque o argumento principal do filme não chegou a ser provado, pois ele não chegou a ser esclarecido. Temos todas as teorias sobre a cegueira: a metáfora, o fotógrafo de cegos, e até a conotação religiosa e cristã daquele que vê entre os cegos. As mudanças dos protagonistas não são o primeiro plano do filme, o que não seria um problema, se o filme colocasse em primeiro plano seu deus- ex- machina: Se for dada a oportunidade, nos transformaremos em animais e destruiremos uns aos outros. A idéia de Orwell na "Revolução dos Bichos" era exatamente essa. Também como variante, a de Pasolini em Saló. Meirelles parece então um democrata falando sobre o absolutismo e suas variantes. Faltou ir além da metáfora da cegueira-cinema.

O site do filme é fantástico e merece não só uma visita, como deixar a trilha correr, como estou fazendo agora.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007



10o Escovadas Antes de Dormir me surpreendeu pela franqueza com que trata o sexo na adolescência. Como diz Geraldine Chaplin (maravilhosa no filme), a adolescência é pura sexualidade, é uma época em que pensamos em sexo pelo menos oitenta por cento do tempo. O filme encara isso de frente e mostra o mecanismo de auto-afirmação da personagem Melissa, que ao invés de fechar-se para um mundo hostil decide enfrentá-lo, passando por uma sucessão de experiências que vão chegando no limite. Um limite que chega com a maturidade, quando Melissa descobre a si mesma, e pára de procurar fora o que pode ter dentro. Lindo filme.

Morreu hoje José Vicente. Esse discreto monumento do teatro nacional. Suas peças eram viscerais, transgressoras, e no caso de Hoje é Dia de Rock, líricas de doer. Dá pra ver um pouco a liberdade do texto na foto de divulgação da peça acima. Quanta coisa que tinha ali. O assalto é um primor de texto, Santidade é um delírio entre a teologia e o homossexualismo... e Hoje é Dia de Rock, uma volta ao sertão de cada um, e a passagem para a vida adulta, a vida pop, a vida vazia. Lembro que fui ver uma palestra desse maravilhoso dramaturgo onde ele negava tudo que escreveu e falava que teatro era besteira. Que impedia de chegar a Deus. Salve, José Vicente, com suas contradições e seu discreto legado de delicadezas, delírios teológicos e tesão homossexual.

domingo, 16 de setembro de 2007

Renan, o vaidoso.


Como se delicia nosso presidente do senado com os flashes. Com a atenção da imprensa. Renan está atrasando o país, desviando a atenção de assuntos importantes, e está adorando tudo isso.
O nosso caso Clinton vai longe. Que cidadão é esse que, contra tudo e todos, não larga o osso? Pior que os que o julgaram é a atitude dele próprio, de não sair de cena para não atravancar ainda mais o país.
Será que ele comprou a Playboy da ex?